Por Carlos Aguiar Gomes
Provincial da Militia Sanctae Mariae
Ando a reler, desde que surgiu a Academia de Estudos Litúrgicos “S. Gregório Magno”, uma das obras mais significativas escritas sobre Liturgia, dos finais do século XX e cuja edição, em Portugal, data de Fevereiro de 2001.Estou a referir-me a “Introdução ao Espírito da Liturgia“, do, então, Cardeal Joseph Ratzinger., depois Bento XVI. E ando a reler com o máximo proveito. Ao terminar o Prefácio que escreveu para este livro, o autor , afirma :
”… não me detenho em discussões científicas ou investigações; antes quero ajudar a fazer compreender a fé e a contribuir para uma execução correcta da sua essencial forma de expressão dentro da Liturgia.”
O Cardeal Ratzinger, usando uma linguagem de grande humildade, não se arvora em Mestre, que o era, mas num simples carreador de contributos para ajudar e contribuir para uma correcta vivência da Liturgia e , consequentemente, como:
“estímulo para um “Movimento Litúrgico” diferente, um movimento para a execução correcta da Liturgia…”
Todos sabemos o quanto o Cardeal Ratzinger, já Papa Bento XVI ,se esforçou para que se concretizasse o seu desejo expresso neste livro, dando ele próprio o exemplo nas celebrações a que presidia, perante a indiferença de muitos!

Liturgia de Bento XVI, papa emérito
Voltando ao livro em apreço, o autor, com o espírito lógico arrumado e com a sua imensa sabedoria, divide este trabalho em quatro grandes temas: ”Sobre a Natureza da Liturgia”; ”Tempo e Espaço na Liturgia”; “ Liturgia e Arte” e, finalmente, como que coroando a sua obra, o tema “A Configuração da Liturgia“. E como seria expectável , o Cardeal Ratzinger, começa com duas perguntas-base, de onde parte todo seu trabalho: “O que é, no fundo, a Liturgia? O que acontece nela?”. Perguntas que muito poucos cristãos fazem e de que a maioria, provavelmente, ignora as respostas. Talvez mesmo, muitos Sacerdotes tenham algumas dúvidas…
A partir destas duas questões, o Cardeal Ratzinger vai desenvolvendo, com profundidade, o que é, de facto, a Liturgia, o que celebra e como se deveria celebrar e com que finalidade, isto é, para quem celebra. Sem conhecermos estas respostas, a Liturgia corre muitos sérios riscos de se desvirtuar:
“Ou pior: ela significa o abandono de Deus verdadeiro, disfarçado debaixo de um tampo sacro. Mas, assim, o que resta no fim é a frustração, a sensação de vazio.” ( l.c. pág. 16, da ed. Portuguesa – Ed. Paulinas, Lisboa, 2001).
Neste magnífico trabalho de Joseph Ratzinger, que urge divulgar e (re)ler, os mais importantes aspectos da acção litúrgica, nomeadamente da celebração da Santa Missa, são contextualizados e para os que se perderam em nome de uma dita criatividade balofa, surge a sugestão veemente para a sua rápida recuperação. Recuperação não em nome de um saudosismo cristalizador, mas de não deixar perder o sentido do essencial, sem o qual “a Liturgia se torna em mera brincadeira“ .
A “Introdução ao Espírito da Liturgia” do Cardeal Ratzinger, um verdadeiro mestre espiritual, nesta obra, abre-nos os olhos do coração, através de inúmeras visibilidades da Liturgia, para a contemplação do mistério de um Deus que se fez Homem, se imolou por nós e conosco permanece para sempre “tão real e perfeitamente como está no Céu” e que por nós tem de ser adorado em “espírito e verdade”. Que o livro em referência, seja para todos nós, um empurrão decisivo para vivermos a Sagrada Liturgia como louvor perene em que Deus seja, de facto , o centro e o ápice!

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